quinta-feira, março 14 2024

[contém spoilers] Finalmente, após dois episódios de preparação, Game of Thrones entregou a tão aguardada batalha dos vivos contra os mortos em Winterfell e, para a surpresa de muitos, também trouxe uma inesperada conclusão, com o Rei da Noite sendo morto não pelo ex-Rei do Norte e ex-Comandante da Patrulha Jon Snow, e nem pelas mãos da Rainha dos Dragões. Em uma quebra de expectativa típica da série, a salvadora de Westeros acabou sendo Arya Stark, a jovem garota que passou toda a sua vida treinando sem imaginar que um momento como esse viria. Os White Walkers estão exterminados, e a humanidade agora está livre do perigo da Longa Noite.

Tudo muito emocionante, mas e agora? Tecnicamente, a batalha foi excepcional para quem conseguiu assistir com uma boa resolução, pois a compreensão da transmissão linear da HBO infelizmente prejudicou gravemente as cenas noturnas, que foram a maior parte do episódio (solicitamos esclarecimentos do canal sobre o ocorrido). O diretor Miguel Sapochnik e os roteiristas David Benioff e D.B. Weiss criam uma atmosfera de uma história de horror, com os vivos tendo uma esmagadora e crescente derrota nas mãos dos White Walkers. E ainda que em alguns momentos do primeiro ato a montagem tenha sido mais picotada e trêmula do que deveria (Sapochnik não fez isso nos superiores Hardhome e Battle of the Bastards), o resultado permanece um espetáculo.

Tivemos cenas inesquecíveis, como os 10 minutos iniciais, quase sem diálogos, criando a tensão dos personagens esperando a chegada dos mortos; o retorno de Melisandre, que finalmente faz um show literal de mágica na guerra; os Dothraki desaparecendo na névoa, Lyanna Mormont levando um gigante junto com ela para a morte, a luta aérea dos dragões, Arya usando todas suas habilidades na luta contra os Wights, Beric se sacrificando por Arya, assim como o Cão vencendo seu medo do fogo por ela.

Tivemos a morte inesperada de Edd Doloroso, Theon encerrando seu arco de redenção ao entregar sua vida por Bran e Jorah se sacrificando para manter a salvo Daenerys, o amor de sua vida que nunca foi retribuído. Do ponto de vista emocional, The Long Night também foi um belo episódio, mas que traz dilemas e duvidas em relação à reta final da série: com o fim da ameaça dos White Walkers, o que diabos os roteiristas de Game of Thrones estão planejando para os três estendidos episódios finais?

Particularmente, não concordo com as críticas de que morreram apenas personagens “secundários”. Embora existam personagens que não tem mais função na trama e que poderiam partir (como Podrick e Tormund, por mais que eu goste deles), Theon e Jorah estão presentes na série desde o piloto e tiveram jornadas admiráveis no decorrer das 8 temporadas. Suas despedidas foram importantes e trágicas.

Em contrapartida, a possibilidade de Game of Thrones se encerrar com uma nota anticlimática agora fica enorme. Com os White Walkers derrotados, aparentemente o único obstáculo na jornada de Daenerys e dos Starks é Cersei Lannister em Porto Real com o apoio de Qyburn, Gregor Clegane, Euron Greyjoy e a Companhia Dourada. Game of Thrones sempre teve duas tramas principais: a política, representada na figura do Trono de Ferro, e a mágica, representado pelos White Walkers e dragões. Com a trama mágica encerrada, como fazer com que a política seja emocionante o suficiente para encerrar a série de uma maneira satisfatória? Como Cersei pode ser uma ameaça convincente para os heróis após eles derrotarem a própria encarnação do apocalipse?

É claro que ainda temos toda o dilema envolvendo a paternidade de Jon e como isso pode prejudicar a pretensão de Daenerys ao trono. Além disso, encerrar a fantasia para focar na “burocracia” com antagonistas humanos remete ao final dos livros O Senhor dos Anéis, com os heróis derrotando Sauron apenas para lidar com o Expurgo do Condado. Por enquanto, resta apenas esperar para ver qual será o truque final que David Benioff e D.B. Weiss deixaram guardados em suas mangas até o momento. Esperemos que seja bom.

Assista ao teaser do próximo capítulo: