quarta-feira, maio 1 2024

Foto: Divulgação/Showtime

[com spoilers dos episódios 3×05 e 3×06] Já comentei por aqui que o David Lynch tem o dom de explorar os silêncios e fazer algo poderoso mesmo em longas cenas, sem diálogo algum. Depois de acertar bastante nesse ponto nos quatro primeiros episódios, preciso aceitar que isso não aconteceu nos dois seguintes. Mais do que o ritmo lento, a sensação de que o enredo não está avançado muito é o que realmente incomoda.

A quinta parte do revival seguiu ainda muito focada no Cooper-Dougie e nas pessoas que queriam vê-lo morto. Além disso, outros novos personagens e arcos foram introduzidos, abandonando cada vez mais aquela sensação de familiaridade com a série antiga. Sabemos que em determinado momento tudo isso será importante, mas a cidade de Twin Peaks anda tão coadjuvante que pode afastar os fãs, ainda mais se considerarmos que estamos sem o verdadeiro Cooper como centro de atenção.

Falando nisso, o episódio faz uma breve provocação quando Cooper-Dougie ouve a palavra “agente” e isso parece disparar algo em sua mente. Porém, o que poderia ter sido uma grande revelação e transformar um pouco o rumo da história acabou se tornando uma pequena frustração. Ainda assim, existiram pontos positivos, como o programa do Dr. Jacoby e aquele anúncio toscamente maravilhoso da sua pá dourada, além de uma cena bombástica para quem não estava acompanhando as teorias sobre a nova temporada: a aparição de Diane, interpretada por Laura Dern (como já havia sido especulado).

Porém é no sexto episódio que o até então adorável Cooper-Dougie já começa a ficar um tanto cansativo, apesar de alguns momentos divertidos em que divide a cena com a família e de um momento importante, em que ajuda a Lucky 7, empresa de seguros para a qual trabalha, a desvendar uma fraude envolvendo o colega Anthony Sinclair. Mas, infelizmente, sua participação ainda segue bastante resumida a repetir poucas palavras em meio a silêncios cada vez mais longos e agir inadequadamente. Nessas sequências, o destaque tem sido mesmo para Naomi Watts, que está ótima como a impaciente e durona esposa Janey-E Jones e deu um show na cena com os agiotas.

O episódio ainda contou com truques com moedas, um atropelamento chocante (ponto pra trilha de Badalamenti nesse momento) e assassinatos violentos e insanos, mas tudo ainda um tanto desconectado. O que salvou mesmo foi o ótimo cliffhanger, quando Hawk finalmente descobre a chave para o enigma do tronco de Margaret e encontra – ao que tudo indica – as páginas desaparecidas do diário de Laura, que estavam escondidas no banheiro. Porém, no geral, a série está em um ponto um pouco problemático, pois segue adicionando novos personagens e arcos e está deixando para trás alguns que pareciam importantes, como a caixa de vidro e o misterioso bilionário ou bilionária, o assassinato em Buckhorne (que só ganhou destaque na cena da autópsia e quando é mencionado um incidente envolvendo o Major Briggs naquela cidade) e o próprio doppelgänger, personagem fundamental que pouco apareceu, assim como o Black Lodge e seus espíritos residentes.

Realmente espero que Twin Peaks reencontre seu ritmo e avance um pouco para conectar as numerosas peças desse grande quebra-cabeças. E não vejo a hora do verdadeiro Cooper retornar, mesmo com Kyle MacLachlan fazendo com que a gente também se apaixone pelo Dougie.

PS 1: O desfile de participações especiais segue: Jim Belushi, Amanda Seyfried, Ernie Hudson, Tom Sizemore, Harry Dean Stanton e Jeremy Davies, além da já citada Laura Dern.

PS 2: A trilha do revival, que já estava ótima, apresentou outra grande música no final do sexto episódio: Tarifa, de Sharon Van Etten (quem acompanhou The OA irá lembrar da participação dela como Rachel).

https://youtu.be/xAyP00S651E

1 comment

  1. Para quê… tanta pressa?.. Deslindar fatos… em cenas onde sequer notamos… as particularidades… de cada movimento… dos atores… do cenário?… Responder anseios… que nos pareçam… ter urgência ? Ora..Curta a viagem… sozinho(a)…com o David… Como o David…

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