quarta-feira, março 13 2024

Convenhamos: a 8ª temporada de Game of Thrones foi a pior de toda a série, desde o desenvolvimento apressado, trôpego e insatisfatório de seus principais arcos narrativos, em especialmente o de Daenerys Targaryen e Jon Snow. Talvez nunca saberemos o que ocorreu nos bastidores para que tudo tenha sido feito assim – da reduzida encomenda de episódios até as declarações controversas do autor das Crônicas de Gelo e Fogo que inspiraram a série.

Inobstante, Game of Thrones marcou a década na TV e dificilmente veremos um fenômeno como este tão cedo. Aliás, esta provavelmente foi a última série em que o mundo assistiu “junto” todos os domingos à noite ligado em um mesmo canal. Nenhuma outra produção atual hoje em dia é capaz de tal feito, seja por estarem em plataformas de streaming, seja por não movimentarem uma legião uníssona de fãs.

O Season e Series Finale tinha à frente uma tarefa árdua: encerrar satisfatoriamente (a) uma temporada ruim e (b) uma série excepcional. No fim ela conseguiu dar um desfecho justo, coerente e merecido, bem como trouxe surpresas e reviravoltas (algumas previsíveis, mas ainda assim reviravoltas) como, claro, a morte de Daenerys nos braços de um Jon Snow finalmente convencido de que sua Rainha dos Sete Reinos se perdeu (ela não ficou louca afinal, apenas deixou o poder subir à sua cabeça como no de muitos governantes) e não tinha condições de reger Westeros após seus recentes e impiedosos atos.

Foi corajosa, inclusive, a decisão dos roteiristas de colocar Drogon para “derreter” o Trono de Ferro, quando o animal sofria pela trágica morte de sua mãe, ao mesmo tempo em que poupou Jon (afinal, ele é um Targaryen). Outra bela reviravolta foi Tyrion, finalmente recuperando o posto que lhe é devido – o de sábio conselheiro – e encerrando a tradição de poder pelo sangue que muito mal já causou no mundo (a menção aos filhos de regentes foi ótima).

Obviamente este é um final que dividirá os fãs, atraindo reações acaloradas e extremas (que viriam independente do que fosse feito). Mas ver Bran Stark “eleito” pelos Lordes é sim um bom desfecho desse longo período narrativo, alterando de vez a história em Westeros, e criando uma bela elipse para o garoto que fora defenestrado da torre lá no piloto. O mesmo digo de Sansa – sensata – se recusando a dobrar o joelho ao seu próprio irmão e declarando sua independência do Norte.

Para este final a direção de David Benioff e D.B. Weiss soube homenagear, com a ajuda da sempre emocionante trilha de Ramin Djawadi, os oito anos que precederam o seu fim, encerrando diversos arcos com belíssimos planos como o plongée que mostra Jaime e Cersei abraçados sob as rochas até os que fotografam os três irmãos Starks de costas, com um novo futuro à frente. Já o final de Jon Snow deixou muito à desejar pela importância que este personagem teve ao longo da série, embora o de Tyrion, Davos, Brienne, Sam e cia. terem uma saída digna, mas não grandiosa.

Game of Thrones terminou com um excelente episódio uma temporada ruim, inconstante e teria brilhado (muito) mais se grandes e equivocadas decisões narrativas não tivessem sido tomadas da forma com que foram tomadas. São raras séries tão grandiosas que terminam com um desfecho uníssono e aclamado, mas talvez esta jamais teria terminado assim, não importaria como.

A vigília terminou.