sexta-feira, março 15 2024

Os proeminentes escritores e roteiristas de literatura fantástica assinam a adaptação da série mexicana Niño Santo para a Netflix. O Escolhido conta a história de três jovens médicos enviados a um vilarejo remoto do Pantanal para vacinar seus moradores contra uma nova mutação do vírus da Zika. Seus esforços para tratar a população são recusados, e os médicos se veem subitamente presos em uma comunidade isolada coberta de segredos e devota de um líder enigmático que os força a confrontar o poder da fé com a ciência.

É a primeira vez que a Netflix embarca nesse gênero de suspense, mistério e elementos fantásticos em uma produção nacional e a escolha de Raphael e Carolina para adaptar essa história não poderia ter sido mais acertada. Eu conversei com o casal de roteiristas, que adiantou um pouco sobre o que podemos esperar desta primeira temporada, que está disponível a partir das 05h desta sexta, 28 de junho, na plataforma de streaming.

Munhoz disse que “o objetivo foi fazer uma série dinâmica, com episódios que terminam com cliffhangers pra deixar o público sempre com vontade de assistir ao próximo“, o que é verdade. O primeiro episódio, exibido em um evento da Netflix, é desenvolvido com muita competência, não apenas apresentando bem a premissa e a ambientação, como encerrando com uma cena chocante. O mesmo se repete nos demais capítulos que a empresa disponibilizou ao site para conferirmos antes da estreia.

“O Pantanal, cercado por água, tem uma mística que a gente queria incorporar na série e a Netflix até nos incentivou em ambientar a atração fora de um grande centro urbano.”

Raphael Draccon

Mas O Escolhido também tem comentários sociais, muito graças à trama sobre vacinação, que acabou virando pauta graças ao irresponsável movimento “Anti-Vax” que toma conta do Brasil, mas tem ainda mais força nos EUA, onde Draccon e Munhóz residem. Eles disseram, contudo, que a ideia de abordar esse tema não foi por alguma motivação ativista, mas sim que isso estava presente no material original, de 2010, antes do movimento ganhar força.

Foi quando pegamos os textos que vimos que ele se encaixava com o atual momento, mas ficamos feliz de estarmos levantando o debate sobre como as pessoas podem tentar conviver com essas diferenças de posições, que é o que se passa na [fictícia] cidade de Águazul [vista na série]“, contou Munhóz. “Na trama a questão da vacina é só o estopim que desenvolve a temporada“, completou Draccon.”

No centro de O Escolhido está a eterna dualidade entre fé e ceticismo, visto em séries como LOST, mas que aqui ganham uma roupagem genuinamente brasileira. Gravada no interior do Tocantins e ambientada no Pantanal matogrossense, é nítido que a brasilidade e as especificidades regionais foi incorporada na atração, criando uma identidade única.

Munhóz disse que “é um conteúdo que o Brasil não está acostumado, pois a gente não vê tantas séries sobre locais como o Pantanal ou vilarejos mais afastados e por isso pensamos em sair do eixo Rio-São Paulo”.

“A nossa beleza e riqueza folclórica é o que a gente sempre quis mostrar nessa série, tanto para o brasileiro quanto para o mundo.”

Carolina Munhóz

O casal contou também que aproveitaram até mesmo lendas e a participação de populares locais, que foram incluídos no roteiro. Presentes nas gravações, Munhóz e Draccon, que também são produtores-executivos, fizeram mistério sobre o personagem que dá título à série, e que não aparece muito no episódio piloto.

A gente quer que o público desenvolva suas próprias teorias sobre a real natureza do Escolhido – não só se ele é mesmo poderoso, mas por que existe uma comunidade inteiramente devota a ele, completou Munhóz.

Produzida pela Mixer Films, O Escolhido é dirigida por Michel Tikhomiroff, que é também o produtor-executivo ao lado de João Daniel Tikhomiroff, Carolina Munhóz e Raphael Draccon e terá seis episódios em sua primeira temporada, o que sabiamente fez com que a série fosse concisa e intensa. Draccon comentou que essa temporada terá um arco narrativo fechado e satisfatório – com respostas para as perguntas levantadas -, mas com a possibilidade da série continuar, a depender do resultado.

“Uma coisa que a gente sempre prezou muito, vindo da literatura, é de ter um começo, meio e fim planejado para as histórias, ainda que haja uma possibilidade de continuação. A gente sentia falta de uma série que estimule a discussão e acho que isso vai acontecer com O Escolhido”

Carolina Munhóz

Assista ao trailer: