sexta-feira, março 15 2024

[Contém spoilers] Convenhamos: o papel de suceder o estrondoso Vingadores: Ultimato parece ingrato sob qualquer ponto de vista, ainda mais quando este seria o filme que deveria 1) encerrar de vez a Saga do Infinito como uma espécie de epílogo, como também 2) preparar o terreno para a próxima fase do MCU.

Felizmente, Homem-Aranha: Longe de Casa se mostra o exemplar perfeito para cumprir ambos os desafios. Em termos de tom, esta nova iteração do herói teioso interpretada por Tom Holland já se mostrou leve o suficiente para trazer certo “alívio” aos fãs após eventos tão dramáticos mostrados no filme anterior, e aqui ela se encaixa perfeitamente. Mesmo tendo Peter Parker um apreço especial por Tony Stark, ele é apenas um adolescente, o longa dirigido com energia por Jon Watts cumpre todos os itens da tabela, pois reverencia o legado da primeira fase, mas se abre para novas oportunidades.

Parte disso está na premissa: depois do chamado blip (o estalo de Tanos desfeito), Peter Paker apenas quer tirar uns dias off e se dedicar ao que realmente é: um adolescente com suas inseguranças e paixões, sem ter que carregar tanto peso nas costas. Esse, inclusive, é o mote de vários dos arcos narrativos do personagem nas HQs, muito bem adaptado e sumarizado pelo roteiro de Chris McKenna e Erick Summers (vindos da série Community).

De férias na Europa, ele é recrutado por Nick Fury (Samuel L. Jackson) e Maria Hill (Cobie Smulders) para ajudar um novo herói, Mysterio (Jake Gyleenhall), a combater a ameaça dos chamados Elementais, seres que vieram de outra dimensão após o estalo de Thanos. Mas mesmo quem não conhece o personagem sabe que há algo muito de errado com a história contada por Quentin Beck, já que os “tais” vilões são destruídos com muita facilidade e com pouco tempo de tela e o público está bem mais sofisticado com relação à linguagem do cinema pra entender que aquela não era a ameaça real.

Se nas histórias em quadrinhos Mysterio é um ex-ator que usa seus conhecimentos de efeitos especiais para cometer furtos e crimes, aqui ele mantém esta premissa de certa forma, mas num contexto bem mais interessante e interligado ao MCU. Sua “capacidade” de dissuasão e manipulação da realidade, inclusive, resulta em algumas das melhores sequências de todos os longas do Aranha, não só pela engenhosidade da ação em si, mas também pelo visual que diretamente remete ao material de origem e seu formato, o que é notável.

Complementando o ótimo elenco, Zendaya (Euphoria) segue trazendo uma carga de ironia interessante para MJ, enquanto os ótimos Ned (Jacob Batalon) e Happy (Jon Favreu) se encarregam das risadas. Mas o trunfo maior de Homem-Aranha: Longe de Casa continua sendo Holland, que imprime ao heroi uma vivacidade e até uma ansiedade nunca antes vista nas telas, fazendo com que o público se identifique muito mais que nos anteriores sobre seus problemas, dilemas e motivações, o que torna esta a melhor caracterização do Teioso até hoje.

Homem-Aranha Longe de Casa, além de ação e humor, se coloca idealmente entre Vingadores: Ultimato e a nova fase do MCU, com cenas extras que, inclusive, não apenas adiantam o que está por vir em termos de Marvel, mas especialmente com relação ao Aranha em si, prometendo que o encerramento desta trilogia será finalmente digno à grandiosidade deste personagem.