quinta-feira, março 14 2024

Sabemos que invariavelmente todos os filmes de Quentin Tarantino são ou falam sobre fazer Cinema, desde às suas escolhas temáticas até as estéticas. Contudo, após uma sólida carreira, nenhum de suas excelentes criações foram tão profundas em retratar seu amor pela sétima arte como Era Uma Vez… em Hollywood.

Impregnada por Cinema em cada frame, a película percorre uma das mais proeminentes eras de Hollywood – o fim dos anos 60 -, que foi marcada pela presença de diversos tipos interessantes, controversos e também por acontecimentos marcantes. Assim, ao ambientar toda a narrativa no ano de 1969, Tarantino exprime para o público todo o seu sentimento de nostalgia por essa época que, mesmo não tendo a vivido profissionalmente, acabou o moldando como cineasta.

Era Uma Vez… não tem uma trama específica como Kill Bill, Django Livre e outros trabalhos do diretor. Ela se assemelha mais a um exercício de recriação do período histórico sob o ponto de vista preciso e apaixonado do diretor, tendo como condutor Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), um fictício ator de Cinema que vê sua carreira de sucesso cair agora que só consegue papeis menores em séries TV (numa época em que a TV era considerada um subproduto) acompanhado de seu dublê Cliff Botth (Brad Pitt).

Enquanto a dupla faz o corre por Hollywood atrás de oportunidades e trabalhos, o diretor começa a circundar esses personagens por uma série de figuras reais da época, incluindo Sharon Tate (Margot Robbie), Bruce Lee, Steve McQueen e, claro, o clã de Charles Manson, que começava a incomodar nas ruas de Los Angeles e região.

Aqui abro parêntesis para um fato que precisa ser de conhecimento prévio do público antes de assistir e apreciar bem este filme: o crime conhecido como os Assassinatos Tate-LaBianca, cometidos pela “Família” Manson (e curiosamente, recentemente abordados na 2ª temporada de Mindhunter). Trata-se de um crime tão macabro e chocante, que até hoje impacta a indústria do entretenimento.

Embora Era Uma Vez… não seja um filme sobre este crime, o acontecimento invariavelmente é seu norte, já que toda a narrativa caminha para esse trágico momento que encerrou a década, mas com um olhar único do realizador sobre o fatídico dia. Seja este o último, penúltimo ou mais um filme de Quentin Tarantino, Era Uma Vez… Em Hollywood é mais uma obra-prima e um presente a todos os cinéfilos, não apenas por carregar todas as assinaturas do diretor – os diálogos ágeis, a violência, os figurinos e direção de arte impecáveis – como evoca, pela primeira vez, o lado mais sentimental deste autor fascinado pelo Cinema.