terça-feira, março 19 2024

Todo ano faço no dia 31 um balanço do que teve de melhor na TV. Enquanto o cinema está cada vez mais tomado por franquias, remake e pouco conteúdo original, a TV desponta cada vez mais como um celeiro de novas ideias, adaptações e conteúdos cada vez interessantes, graças à competitividade notadamente no mundo do streaming. 2019 marcou o ápice da produção televisiva e, por isso, este ano listei aqui não apenas as séries, mas também as minisséries (de forma separada) e uma lista com o que teve de melhor (e, ao final, as que não gostei). Esta é a minha lista, com base no que eu assisti, ok? É impossível assistir a tudo que sai, mas eis o que mais curti dentre o que vi:

As 15 Melhores Séries de 2019

Como temos cada vez mais atrações e players surgindo, este ano passarei a fazer a lista das 15 (e não 10) melhores séries. É uma forma que encontrei justa de incluir mais menções no ranking, e também o farei de forma crescente.

01. Watchmen (1ª temporada, HBO)

Damon Lindelof já se mostrou um grande realizador com LOST e, especialmente, The Leftovers, mas é com Watchmen que ele atingiu a quase-perfeição. A adaptação para a TV da HQ de Alan Moore e Dave Gibbons foi extremamente bem-sucedida porque não apenas honrou o material de origem, mas o fez de forma que o público não-iniciado também pudesse compreender a narrativa (como deve ocorrer com todo material adaptado). Watchmen é uma série carregada com discussões sérias – violência policial, intolerância, racismo – (como ocorria na HQ de Moore) embaladas num show que mescla ação de tirar o fôlego liderado por Angela (Sister Night), no que provavelmente é a melhor atuação da carreira de Regina King (Seven Seconds), uma fotografia perfeita e uma trilha enérgica. Ainda é considerada uma série, pois mesmo que tenha apenas esta maravilhosa e surpreendente 1ª temporada confirmada, espero muito que retornemos a este rico universo. [crítica]

02. Succession (2ª temporada, HBO)

É quase impossível não ter tremenda antipatia por praticamente todos os personagens de Succession na 1ª temporada da série que, confesso, precisei reassistir logo antes da 2ª estrear. Este é um drama que cresce a cada episódio e vai conquistando o espectador aos poucos, contando a história de tramoias, traições e dinheiro nos bastidores de uma abastada (e complicadíssima) família dona de um conglomerado de mídia nos EUA. Seus episódios são agitadíssimos e povoados por tipos excêntricos interpretados por atores talentosíssimos como Brian Cox (Logan), Kieran Culkin (Roman), Sarah Snook (Shiv) e até Jeremy Strong (Kendall), que fez de seu personagem crescer de um inexpressivo e amendrontado executivo àquele capaz de criar um caos meticulosamente planejado.

03. Fleabag (2ª temporada, Prime Video)

Eu já gostava muito de Fleabag desde a sua pouco-badalada 1ª temporada, mas é com sua 2ª (e última) que Phoebe Waller-Bridge conquistou o coraçado do mundo e do Padre Gato. Esta comédia tipicamente britânica é uma gema preciosa e um show de narrativa, com direito à constante quebra da 4ª parede e um domínio ímpar de roteiro e interpretação (da própria Waller-Bridge). Fleabag conta a história de uma peculiar mulher solteira em Londres e suas aventuras e desventuras amorosas no mundo pós-moderno. Com uma linguagem irreverente, não-raramente debochada, característica, coesa, sucinta e divertidíssima, Fleabag certamente merecerá uma mencão como um dos melhores trabalhos autorais desta década televisiva (que só encerra ao final de 2020, vale lembrar).

04. The Crown (3ª temporada, Netflix)

Acompanhando o período que precedeu ao Jubileu de Prata, essa 3ª temporada traz Olivia Colman (Broadchurch) no papel da regente, dando sequência ao excelente trabalho de Claire Foy (A Garota na Teia de Aranha), mas criando uma versão própria e com contornos ainda mais aprofundados sobre uma “servidora pública” que jamais pode se exonerar do cargo sem trazer consequências devastadoras para si, para sua família e para a sua Dinastia. A série consegue, com propriedade, contar uma história comovente, instigante e bastante próxima da realidade e até fazer com que o público torça por aquelas pessoas, ainda que o conceito de monarquia seja cada vez mais incabível no mundo moderno. Esta é, inegavelmente, uma das produções modernas mais interessantes e bem-sucedidas no que se propõe, resultado de um esforço descomunal dos sempre excelentes atores, dos roteiristas e técnicos, que se dedicam para nos trazer uma série atemporal e com apelo universal. É um primor e a melhor atração do vasto catálogo da Netflix. [crítica]

05. The Morning Show (1ª temporada, Apple)

A Apple mostrou que não está para brincadeira com o lançamento de seu serviço próprio de streaming, o Apple TV+. Ao contrário de quantidade, o produto foi lançado com poucos títulos, mas com uma qualidade premium que já imediatamente a colocam próximo de serviços como HBO. Cercada de mistério sobre sua trama, The Morning Show trouxe três titãs da TV – Jennifer Aniston (Friends), Steve Carell (The Office) e Reese Witherspoon (Big Little Lies) – numa série surpreendente que vai além dos bastidores de um programa de notícias matinal. The Morning Show é, na verdade, uma bem-vinda e apropriada discussão do mundo pós-movimento #MeToo e sobre os entremeios que permitem que um sistema falho prospere no mundo corporativo, em especial no do entretenimento. Além de trazer Jennifer Aniston em um de seus melhores momentos na carreira, The Morning Show coloca o talentoso e amável Carell num papel difícil e lida, num drama imprevisível e tecnicamente impecável, com as diversas consequências que denúncias de abuso e má-conduta sexual causam em todas as partes envolvidas.

06. Euphoria (1ª temporada, HBO)

Eu não gostei quase nada do piloto de Euphoria à exceção de seu visual arrojado e das ótimas interpretações. Me pareceu, de início, uma série gratuita e sem muita propriedade para tratar dos pesados assuntos que lança, parecendo uma peça exploratória. Eu estava errado, e como. Embora o piloto traga os problemas que mencionei, o drama estrelado por Zendaya (Homem-Aranha: Longe de Casa) aprofunda em todos os aspectos relacionados à realidade adolescente atual, incluindo drogas, depressão, abuso, sexualidade e auto-afirmação, numa série esteticamente irrepreensível e tematicamente arrojada, especialmente em seu fantástico episódio final.

07. Billions (4ª temporada, Showtime)

Assim como Succession, Billions é outra série que cresce no espectador à medida em que vamos nos envolvendo na trama. A 4ª e excelente temporada trouxe os momentos mais engenhosos de toda a série até agora, com a inusitada parceria entre os rivais Bobby Axelrod (Damian Lewis, Homeland) e Chuck Rhodes (Paul Giamatti, John Adams) e grandes reviravoltas executadas semana após semana (aliás, como é bom ter séries que permitem esse tempo entre episódios para que possamos apreciar melhor cada capítulo) com um planejamento ímpar do roteiro de Brian Koppelman e sua equipe.

08. Mr. Robot (4ª temporada, USA Networks)

Eu sei, é bem estranho ver esta produção neste ranking. Mr. Robot foi uma série bastante irregular. Da 1ª temporada que chegou com um estrondo, ela seguiu para um ruim 2º ano, mas da 3ª em diante cresceu e atingiu o ápice brilhantemente arquitetado por Sam Esmail, fechando todas as pontas e entregando um final completamente satisfatório para a história do hacker Elliott (Rami Malek, Bohemian Rhapsody) e sua cruzada contra o estabelecimento e contra seus próprios demônios pessoais. Se você deixou a série pra lá em algum momento, retome, pois ela entregará o que prometeu lá atrás.

09. BoJack Horseman (6ª temporada, Netflix)

Figurando em diversos tops de 10+ que fiz ao longo dos últimos anos, esta animação de Raphael Bob-Waksberg é também uma das melhores atrações televisivas da Netflix nesta década, pois contou uma história irreverente, com uma estética e universo próprios, mas sempre muito bem antenada com o que acontece em Hollywoo(d), ao mesmo tempo em que cria um complexo (e às vezes devastador) estudo de um personagem problemático, pródigo e depressivo interpretado por um dos melhores atores cômicos atuais, Will Arnett (Arrested Development), como um cavalo/astro de TV em uma espiral decadente e auto-destrutiva. Sua narrativa constrói uma dramédia repleta de camadas e muito mais profunda que a maioria das produções live-action dos últimos tempos.

10. The Good Fight (3ª temporada, CBS All Access)

Fechando os 10 primeiros colocados, The Good Fight segue como um dos melhores e mais relevantes dramas da TV, justamente por sua ambição e capacidade de tocar em feridas recentes da política global (e estadunidense), ampliando exponencialmente a fórmula de “caso da semana” iniciada em sua predecessora, The Good Wife. É uma produção que não se esconde, em nenhum momento, de adotar uma posição política (anti-Trump), criando histórias sempre envolventes, cada vez mais diretas ao ponto e capaz de gerar debates necessários sobre diversos assuntos que permeiam o polarizado campo de batalha ideológico do mundo em que vivemos.

Complementando a lista, cito as outras 5 séries deste ranking das 15 melhores de 2019:

11. Barry (2ª temporada, HBO): uma comédia ímpar e que trouxe um dos melhores e mais divertidos episódios do ano (ronny / lily) que evidencia o talento de Bill Hader como um dos realizadores mais proeminentes de sua geração, além de excelente intérprete.

12. Dark (2ª temporada, Netflix): o drama alemão segue desdobrando sua narrativa e mais linhas temporais com direito a grandes surpresas e revelações sobre fatos estabelecidos, demonstrando controle absoluto de sua complexa e inigualável narrativa.

13. The Marvelous Ms. Maisel (3ª temporada, Amazon Prime Video): Amy-Sherman Paladino comprova, ano após ano, que é uma verdadeira mestra dos diálogos rápidos, irreverentes e próprios, com uma linguagem teatral sempre afiada numa série repleta de atuações excepcionais.

14. Boneca Russa (1ª temporada, Netflix): uma bela surpresa que veio no começo de 2019 e que merece mais prêmios pela forma magistral em que conta uma história louca, irreverente e imperdível, sobre uma mulher presa num loop temporal bem no dia de sua morte.

15. Stranger Things (3ª temporada, Netflix): Pra mim a melhor temporada deste sucesso já estabelecido e que cresce em escala, ao mesmo tempo em que não perde jamais o foco da verdadeira mensagem de amizade e união [crítica].

As 10 Melhores Minisséries de 2019

01. Chernobyl (HBO/Sky Atlantic) [crítica]
02. Deixando Neverland (HBO)
03. Olhos que Condenam (Netflix)
04. Good Omens (Amazon Prime Video) [crítica]
05. Modern Love (Amazon Prime Video)
06. Don’t Fuck with Cats: Uma Caçada Virtual (Netflix)
07. Conversations with a Killer: The Ted Bundy Tapes (Netflix)
08. Inacreditável (Netflix)
09. Eu te Amo, Agora Morra (HBO)
10. Surviving R. Kelly (Lifetime)

Séries, minisséries e programas de TV de 2019 que valem a menção

Sem ordem de preferência, aqui vai uma lista de séries, minisséries, reality-shows e programas que assisti e curti em 2019:

Mindhunter (2ª temporada, Netflix)
American Son (Netflix)
Coisa Mais Linda (1ª temporada, Netflix)
See (1ª temporada, Apple)
3% (3ª temporada, Netflix) [crítica]
The Boys (1ª temporada, Amazon Prime Video)
Choque de Cultura Show (Globo/TV Quase)
Pico da Neblina (1ª temporada, HBO) [crítica]
GLOW (3ª temporada, Netflix)
Comedians in Cars Getting Coffee (Netflix)
Veronica Mars (4ª temporada, Hulu)
La Casa de Papel (3ª Parte, Netflix) [crítica]
Ordem na Casa com Marie Kondo (Netflix)
You’re the Worst (5ª temporada, FXX)
Sex Education (1ª temporada, Netflix)
Brooklyn Nine-Nine (6ª temporada, NBC)
Grace and Frankie (5ª temporada, Netflix)
Crashing (3ª temporada, HBO)
Unbreakable Kimmy Schmidt (5ª temporada, Netflix)
Will & Grace (11ª temporada, NBC)
Patrioct Act with Hasan Minhaj (Netflix)
Instant Hotel (2ª temporada, Netflix)
The Umbrella Academy (1ª temporada, Netflix)
Last Week Tonight with John Oliver (HBO)
Love, Death & Robots (Netflix)
Queer Eye e Queer Eye: We’re in Japan! (Netflix)
Arrested Development (5ª temporada, Netflix)
The OA (2ª temporada, Netflix)
Greg News com Gregório Duvivier (HBO)
Veep (7ª temporada, HBO)
Bandidos na TV (Netflix) [crítica]
De Férias com o Ex: Celebridades (MTV)
Easy (3ª temporada, Netflix)
Como Vender Drogas Online (Rápido) (1ª temporada, Netflix)
My Next Guest Needs No Introduction with David Letterman (2ª temporada, Netflix)
The Handmaid’s Tale (3ª temporada, Hulu)
Penn & Teller: Fool Us (5ª temporada, The CW)
Jack Whitehall: Travels with My Father (2ª temporada, Netflix)
The Deuce (3ª temporada, HBO)
Mrs. Fletcher (1ª temporada, HBO)
Silicon Valley (6ª temporada, HBO)
Servant (1ª temporada, Apple)
The End of the F***ing World (2ª temporada, Netflix)
El Camino: A Breaking Bad Movie (Netflix)
A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício (HBO)
Fyre: The Greatest Party that Never Happened (Netflix)
Democracia em Vertigem (Netflix)
O Irlandês (Netflix)
Dois Papas (Netflix) [crítica]
Meu Nome é Dolemite (Netflix)
História de Um Casamento (Netflix)

Séries que não curti em 2019

Big Little Lies (2ª temporada, HBO) [crítica]
Friends From College (2ª temporada, Netflix)
Marvel’s The Punisher (2ª temporada, Netflix)
The Twilight Zone (Amazon Prime Video)
Killing Eve (2ª temporada, BBC America)
Dilema (1ª temporada, Netflix) [crítica]
The Witcher (1ª temporada, Netflix) [critica]
Black Mirror (5ª temporada, Netflix)
13 Reasons Why (3ª temporada, Netflix) [crítica]
The Affair (5ª temporada, Showtime)