sexta-feira, abril 19 2024

Sim, você não leu errado. Pela primeira vez este site está falando sobre Big Brother Brasil, o vulgo BBB. A última vez que acompanhei o reality foi em sua primeira edição, há 20 anos e, De lá pra cá nunca mais dei atenção ao programa e apenas acompanhei as diversas polêmicas por meio de notícias e vídeos espaçados.

Eis que, sem sono na noite de ontem, comecei a perceber um volume fora do usual de comentários e reações em todas as redes sociais sobre o que está acontecendo na 20ª edição do programa, que reúne inscritos e convidados famosos (em suas respectivas bolhas) pela primeira vez. Rapidamente me inteirei sobre quem é quem dos que eu já não conhecia e das polêmicas atuais da casa-estúdio.

Historicamente o BBB foi um programa que objetificou mulheres e passou pano para situações de assédio moral, sexual e abuso, sempre bastante alheio a temas sociais, sendo pautado pelo díade espetáculo/treta. Mas algo aparentemente mudou nesta edição, não sei se pela escolha das personalidades certas ou pelo momento em que o mundo caminha com a cultura “woke” – em que comportamentos outrora “aceitos” pela coletividade, como o machismo e temas relacionados a abuso de todos os tipos, vêm recebendo (finalmente) o devido reconhecimento.

Pois bem, seguido do programa exibido na Globo (do qual peguei apenas o final com a eliminação do algoz Pétrix), a ação desenrolou-se madrugada adentro pelo Globoplay, no que acabou sendo uma noite épica para a televisão e com picos dramáticos que fariam inveja à Shonda Rhimes, George R.R. Martin, Ryan Murphy e seus pares. Em determinado horário, não consegui acreditar na quantidade de gente acordada e interagindo sobre o programa – nem no que estava acontecendo na tela sem qualquer filtro.

A tal “Casa de Vidro” trouxe levou novatos ao programa munidos de uma infinidade de informações coletadas de populares de um shopping carioca. Antes da entrada da nova dupla, Ivy e Daniel, os participantes do reality global estavam divididos entre “machos escrotos x Mulheres e os demais homens que não fazem mais que a obrigação”, com duas (ou três) narrativas conflitantes sobre as estratégias de jogo que, até então, segundo entendimento da casa, eram capitaneadas pelo professor de educação física Hadson.

O público de fora, porém, tinha como alvo o atleta olímpico Pétrix, o “PX”, que protagonizou cenas questionáveis (até pela Polícia Civil do RJ) que foram repetidas à exaustão nas redes sociais, mas passaram despercebidas pelos moradores: o momento em que ele toca de forma inconveniente nos seios de uma Bianca “Boca Rosa” entorpecida; uma cena deplorável em que ele roça sua genitália na cabeça de Flayslane e um embate em que ele derruba o querido do publico, Pyong Lee, numa corrida violenta para atender o aguardado Big Fone. Isso além de ter se aliado aos outros exemplos nada lisonjeiros do sexo masculino, Prior, Lucas e Hadson (ainda estou aprendendo os nomes e alcunhas).

Atônitos pelo golpe dado pelo público (afinal, a “casa” havia identificado como vilão apenas Hadson) e ainda sem entender o resultado, eis que chegam duas novas pessoas com o jogo já correndo. Manu Gavassi (plena, fada, sensata, maravilhosa), foi a primeira a questionar aqueles participantes que, após receberem um inédito coaching do Sr. Boninho, chegaram tentando esconder o que sabiam, mas em vão. Em seguida, as igualmente incríveis Marcela e Gabi se prontificaram a tirar a limpo tudo aquilo. O que vimos daí em diante foi uma aula involuntária de como se fazer TV das boas, com direito a momentos de tensão, revelação, choque, roda de oração, reflexão e até celebração.

As revelações de Ivy sobre como o público de fora vê o jogo causaram pânico generalizado nas “Sisters”, que não se deram conta, por vários motivos, do comportamento tóxico de Pétrix. Avisadas de que o resultado inesperado (pra eles) do paredão do ginasta é um recado claro do público sobre o que não vai ser tolerado, o Big Brother Brasil exibiu durante a virada de terça (04) pra quarta (05) momentos de catarse coletiva e aprendizado (para os participantes e para o público) sobre a importância da sororidade feminina, de acreditar em vítimas de qualquer tipo de abuso e de por um chega pra lá na cultura do “macho escroto”.

Foi também entretenimento sem limites como há muito tempo não via na TV aberta brasileira, já que a situação escalou para um ponto quase fora do controle – destaque quando Ivy contou sobre a investigação policial de Pétrix e Boninho deixou o côro comer sem redirecionar câmeras (como já fizeram antes) – com participantes quase pedindo pra sair, mas bravamente resistindo, e o trio tóxico começando a rever as suas próprias atitudes na casa (e na vida). Tava bom, mas bom demais de assistir aquilo. Resta saber agora como que Boninho – o maestro do imprevisível – vai conduzir tudo isso nas próximas edições. Se continuar assim, terei que começar a assistir Big Brother Brasil, algo que nunca imaginei que voltaria a fazer.